Conversamos com o Dr. Cristiano Caixeta (CRM SP 96.458), médico oftalmologista e Presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), para entender como cuidar da saúde ocular – da infância à fase adulta.
Enquanto somos crianças, cuidar da saúde ocular fica a cargo de nossos responsáveis. Conforme crescemos, vamos nos ocupando com as atividades cotidianas e passamos a buscar ajuda somente quando o corpo emite um alerta. Visão embaçada, dificuldade para enxergar à noite e problema para ler de longe são alguns sintomas que podem ser monitorados e controlados ao longo da vida, mas somente com o suporte adequado. Entenda no texto abaixo.
Saúde ocular da criança: como e quando cuidar
Durante os primeiros anos de vida, o sistema ocular está em pleno desenvolvimento, por isso esta fase é decisiva para o amadurecimento visual. Tanto que o primeiro exame já acontece enquanto o bebê está na maternidade. Nas primeiras 72h de vida já é realizado o Teste do Reflexo Vermelho (o popular “Teste do Olhinho”)¹, obrigatório por lei no Brasil desde 2017 como um dos exames básicos e essenciais para avaliar o desenvolvimento do bebê. Ele consiste no direcionamento de luz para o olho do bebê e avalia a cor do reflexo, podendo ser avermelhada, alaranjada ou amarelada. Caso a cor refletida seja branca o médico oftalmologista solicitará exames complementares para investigação.
“Este exame pode detectar qualquer alteração que cause obstrução no eixo visual, como catarata, glaucoma congênito e outros problemas que até podem causar cegueira – cuja identificação precoce pode possibilitar o tratamento no tempo certo e o desenvolvimento normal da visão”, explica Dr. Cristiano Caixeta (CRM SP 96.458), médico oftalmologista e Presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
Após a abordagem inicial, o Teste do Olhinho deve ser repetido pelo pediatra três vezes ao ano (pelo menos) nos três primeiros anos de vida da criança¹. Na identificação de qualquer anormalidade, o paciente deve ser encaminhado ao oftalmologista para a realização de exames específicos que irão investigar a fundo as possíveis causas.
Além da realização deste exame na maternidade, a criança deve ser monitorada durante todo o seu crescimento. “É importante ressaltar que a visão está diretamente relacionada ao desenvolvimento da criança. Quando há algum comprometimento visual pode haver sérios prejuízos relacionados à fala e à aprendizagem, por exemplo”, elucida o médico.
Exames para cuidar da saúde ocular da criança
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam1 que o pediatra faça as avaliações listadas abaixo:
* Primeiras 72h de vida: Teste do Reflexo Vermelho (TRV) pelo menos três vezes ao ano durante os primeiros 3 anos de vida. A falha de visualização ou anormalidades no TRV são indicações para encaminhamento urgente ao médico oftalmologista.
* 0 a 36 meses: Inspeção dos olhos e anexos (pálpebras, córnea, conjuntiva, íris e pupila); avaliação da função visual apropriada para a idade; fixação ocular e alinhamento dos olhos.
* 0 a 12 meses: Avaliação dos marcos de desenvolvimento visual para bebês saudáveis:
o Um mês: presença de fixação visual;
o Dois meses: presença de movimentos oculares verticais;
o Três meses: presença da fixação e seguimento de objetos e de movimentos sacádicos adequados;
o Seis meses: presença de tentativa de alcançar os objetos apresentados e do alinhamento ocular apropriado;
o Nove meses: presença do reconhecimento de rostos e expressões.
* Importante: Devem ser encaminhados para exame oftalmológico completo os bebês que não fazem contato visual nos primeiros dois meses de vida ou não apresentam sorriso social ou percepção das próprias mãos aos 3 meses; ou que não pegam brinquedos aos 6 meses, ou não reconhecem rostos e expressões aos 11 meses.
* 12 a 36 meses: cada olho deve ser avaliado individualmente se desenvolveu fixação, capacidade de seguir luz e objetos, reação à oclusão de cada olho.
Já a partir dos seis meses de idade, sugerem que o bebê visite o médico oftalmologista para avaliação completa:
* 6 a 12 meses: inspeção dos olhos e anexos; avaliação da função visual (exame de fixação e seguimento monocular); avaliação da motilidade e alinhamento ocular (testes de cobertura simples e alternada); refração cicloplegiada e avaliação do fundo de olho dilatado.
* 3 a 5 anos (idealmente aos 3 anos): inspeção dos olhos e anexos, avaliação da acuidade visual, avaliação da motilidade e alinhamento ocular (testes de cobertura simples e alternada), refração cicloplegiada e avaliação do fundo de olho dilatado. Se o exame for inconclusivo ou insatisfatório, uma nova avaliação é recomendada em 6 meses.
* 5 a 12 anos: avaliação oftalmológica sobre possíveis erros refracionais a partir dos sinais e sintomas do paciente.
* 13 a 40 anos: além da avaliação de erros refracionais, o médico oftalmologista também se volta para possíveis problemas decorrentes da idade, como catarata, glaucoma e retinopatia diabética.
A criança que apresenta um problema visual desde o início de sua vida não teve a oportunidade de comparar uma visão boa ou nítida a uma visão destorcida ou borrada, então acredita que aquele é o jeito “normal”. Por isso é importante é estar atento a alguns sinais. No entanto, nem sempre isso é tarefa fácil.
Dr. Cristiano Caixeta orienta: “Redobrar a atenção para determinados comportamentos, como: ‘apertar’ os olhos para enxergar, inclinar a cabeça para olhar para algo, baixo desempenho escolar sem outra causa aparente, confusão entre cores, formas e objetos, quedas e esbarrões frequentes, além do hábito de aproximar o rosto de livros e telas é uma boa tática. Ao notar esses sinais, consultar um médico oftalmologista o quanto antes pode fazer a diferença na vida da família e da criança”.
Principais doenças oculares que podem afetar crianças
Em casos de crianças prematuras deve existir a preocupação da avaliação e tratamento quando necessário da chamada retinopatia da prematuridade². Há, também, alguns tipos raros de câncer ocular, que podem acometer as crianças.
Existem algumas doenças que podem estar presentes ao nascimento, ainda que numa frequência não tão elevada. O glaucoma congênito e a catarata congênita³ são duas doenças que merecem atenção.
Nas crianças um pouco maiores, os problemas oculares mais comuns são os erros de refração (miopia, hipermetropia e astigmatismo), estrabismo (o chamado “olho torto”), ambliopia – também conhecida como “olho preguiçoso” – e ceratocone.
Saúde ocular na fase adulta
Principais doenças oculares
Com a visita regular ao médico oftalmologista, torna-se mais fácil monitorar o surgimento de doenças oculares que possam comprometer a visão, sendo que algumas delas são mais comuns após os 40 anos. Segundo Dr. Caixeta, “a presbiopia, popularmente conhecida como ‘vista cansada’⁴ é de longe a mais comum e pode comprometer a qualidade da visão para perto. Todos nós, após os 40 anos, poderemos apresentar em maior o menor grau este desconforto para a leitura de perto. Doenças como o glaucoma, por exemplo, que é causado pelo aumento da pressão intraocular, também apresenta uma incidência crescente a partir desta faixa etária”. Já na terceira idade, aumenta a incidência de doenças como catarata, degeneração macular relacionada à idade e a retinopatia diabética.
Sendo assim, a partir dos 40 anos, o profissional realiza os exames oculares para avaliar erros refracionais a partir de sinais e sintomas apresentados pelo paciente e passa a levar em consideração as possíveis alterações oculares em virtude do avançar da idade.
A partir dos 60 anos, catarata, retinopatia diabética, glaucoma e degeneração macular relacionada à idade são mais comuns.
Como cuidar da saúde ocular na vida adulta
Visitar o médico oftalmologista anualmente para consultas de rotina é essencial, além de não esperar por sintomas para consultá-lo, pois algumas doenças graves podem se desenvolver de forma assintomática – como é o caso do glaucoma. O especialista consegue fazer exames básicos, como de refração, fundo de olho, tonometria (medida da pressão intraocular), entre outros.
Com o avançar da idade, passamos a precisar de ajuda para observar determinados sintomas que podem interferir diretamente em uma vida funcional.
O principal sinal de alerta que deve ser observado é a redução da qualidade visual. Quando a visão começa a ficar embaçada e distorcida, é hora de recorrer à ajuda profissional. Devido a essa perda visual, quedas e confusões com medicamentos podem ocorrer com frequência. Por isso, visitar o especialista o quanto antes é muito importante.
Estima-se que 80% dos casos de cegueira poderiam ser evitados caso houvesse um diagnóstico precoce. Somado ao trabalho do médico oftalmologista, a “receita” para uma vida mais saudável também pode englobar alimentação balanceada e prática de
atividades físicas para evitar problemas oculares, bem como manter doenças crônicas sob controle, como diabetes e hipertensão.
Os conteúdos disponíveis neste portal têm a intenção de informar sobre a saúde ocular. A consulta com o profissional de saúde é fundamental e imprescindível para eventual diagnóstico, tratamento e acompanhamento do paciente.
Referências
1 Recomendação SBOP para exame oftalmológico na primeira infância
2 Retinopatia da prematuridade
3 Teste do reflexo vermelho: forma de prevenção à cegueira na infância