Você precisa ficar de olho no ceratocone

Doença, mais comum na adolescência e início da vida adulta, é um dos principais motivos para transplante de […]

Doença, mais comum na adolescência e início da vida adulta, é um dos principais motivos para transplante de córnea

A adolescência e início da vida adulta são fases de muitas transformações: o corpo sofre mudanças, novas opiniões passam a ser formadas, são dados os primeiros passos no mercado de trabalho e muito mais. Imagine se, além de todos esses fatores, ainda fosse necessário lidar com um diagnóstico de ceratocone. O que você faria?

Esse é o caso de aproximadamente 150 mil brasileiros todos os anos, afetados pela doença ocular rara, genética, hereditária e com evolução lenta, que se manifesta com mais frequência entre os 10 e 25 anos¹, mas pode se desenvolver até os 30 ou 35 anos³. 

“O ceratocone provoca uma lesão na córnea, a camada fina e transparente que recobre toda a frente do globo ocular, causando uma deformação progressiva que afina e aumenta a curvatura dessa estrutura. Ela, que era até então redonda, passa a ter um formato de cone. É por isso que a doença tem esse nome”, explica o Dr. Renato Ambrósio Júnior (CRM 52.62107-2 RJ), médico oftalmologista com vasta experiência em ceratocone.

O problema é que tal condição, ainda desconhecida por muita gente, pode comprometer seriamente a visão caso não seja diagnosticado e tratado precocemente².

“Entretanto, apesar de poder levar à perda de visão bastante acentuada, a boa notícia é que o ceratocone não costuma levar o paciente à cegueira”, pontua o médico.

Identificando o ceratocone

O ceratocone costuma acometer os dois olhos de maneira assimétrica, ou seja, um pode ser mais prejudicado que o outro. O distúrbio também costuma apresentar alguns sinais que podem ajudar na sua identificação³. Entre eles:

– Desconforto visual;

– Dor de cabeça;

– Fotofobia;

– Coceira nos olhos;

– Visão distorcida e/ou embaçada.

Dor e inflamação, a exemplo de vermelhidão nos olhos, não são características típicas. Mas o hábito de coçar os olhos, ainda que não seja um sintoma, é bastante comum.

“O ceratocone ocorre com a associação de questões genéticas e hereditárias, mas seu agravamento está relacionado a traumas repetitivos. Nesse sentido, alergias oculares podem ter ligação e coçar os olhos é um fator de risco para o aparecimento ou piora da doença”, explica o doutor.

O paciente ainda pode apresentar miopia e astigmatismo⁷, que aumentam com o ceratocone e demandam a troca constante de óculos³. Entretanto, o diagnóstico pode ser obtido na fase inicial em pessoas que não apresentam qualquer tipo de sintoma.

Em todos os cenários, a consulta regular com o oftalmologista é peça-chave para a descoberta do problema. Exames complementares, como a Topografia Corneana Computadorizada – análise que faz um mapeamento mais minucioso da superfície da córnea –, podem ser solicitados.

Tratamento pode envolver uso de óculos, colírios e até transplante de córnea³

Dr. Renato Ambrósio, que também é idealizador da campanha Violet June (em português, Junho Violeta) de conscientização do ceratocone, conta que o tratamento depende da progressão da doença.

“O tratamento de alergias associadas e o trabalho de educação para evitar coçar os olhos são essenciais para evitar que a condição continue piorando. Para melhorar a visão já comprometida, os óculos são a primeira opção de correção”, relata o especialista⁴.

Quando a correção não é suficiente pelos óculos, podem ser indicados diferentes tipos de lentes de contato especiais³. Elas, porém, não impendem que o ceratocone progrida.

Se o resultado ainda não é satisfatório, alguns métodos cirúrgicos passam a ser considerados. São exemplos:

 – Implante de anel intracorneano⁸: técnica onde um dispositivo médico implantável é posicionado em uma região conhecida como estroma corneano, buscando regularizar as deformações presentes na córnea⁹

– Cross-linking da córnea⁵: é depositada na córnea uma solução contendo vitamina B2, junto a uma exposição controlada à radiação ultravioleta (UVA). O objetivo é estimular a contração das fibras de colágeno presentes na córnea, reforçando e aumentando a sua resistência.

O ceratocone é um dos principais motivos de transplante de córnea, realizada em último caso e somente em graus elevados⁶. “Não é possível prevenir seu aparecimento, mas é possível eliminar costumes que prejudicam a saúde ocular e evitar, quando descoberta em tempo, o transplante”, finaliza o oftalmologista.

O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais realize qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista

Referências

1. Ministério da Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/10-11-dia-mundial-do-ceratocone/. Acesso em 21/06/2022

2. National Keratoconus Foundation (NKCF). Disponível em: https://www.keratoconusgroup.org/2021/10/world-keratoconus-day.html. Acesso em 21/06/2022

3. Violet June – The Keratoconus Awareness Campaign. Disponível em: https://www.violetjune.com.br/ceratocone/. Acesso em 21/06/2022

4. Ambrósio, Renato et al. Ceratocone: Quebra de paradigmas e contradições de uma nova subespecialidade. Revista Brasileira de Oftalmologia [online]. 2019, v. 78, n. 2 [Acessado 21 Junho 2022] , pp. 81-85. Disponível em: <https://doi.org/10.5935/0034-7280.20180101>. Epub 13 Maio 2019. ISSN 1982-8551. https://doi.org/10.5935/0034-7280.20180101.

5. Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica. Disponível em: https://sbop.com.br/paciente/doenca/ceratocone/. Acesso em 21/06/2022

6. Sociedade Brasileira de Oftalmologia. Disponível em: https://www.sboportal.org.br/campanhas/dia-mundial-do-ceratocone. Acesso em 21/06/2022

7. Sociedade Brasileira de Ceratocone. Disponível em: http://www.ceratocone.net.br/. Acesso em 21/06/2022

8. Violet June – The Keratoconus Awareness Campaign. Disponível em: http://www.violetjune.com.br/wp-content/uploads/2019/11/Captura-de-Tela-2019-11-07-%C3%A0s-09.50.00.png. Acesso em 21/06/2022

9. Moreira, Hamilton et al. Anel intracorneano de Ferrara em ceratocone. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia [online]. 2002, v. 65, n. 1 [Acessado 21 Junho 2022] , pp. 59-63. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0004-27492002000100011>. Epub 23 Jul 2002. ISSN 1678-2925. https://doi.org/10.1590/S0004-27492002000100011.

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